Es
tamos bem longe de encararmos as dolorosas experiências de isolamento que enfrentamos. Experimentamos todos a dor da solidão. É difícil, talvez impossível, alguém escrever sua história sem passar por ela. Ocorre que todos gostaríamos de fugir, ficar longe dessa dor. A expressão: sinto-me só, reflete uma das experiências humanas mais universais. Diante disso, é comum fazermos de tudo para evitarmos o confronto com a solidão. Ligamos para alguém, acessamos a internet, procuramos os amigos, vamos ao shopping, procuramos ambientes agitados; tudo para fazer-nos pensar que não estamos mais sós. Ou seja, criamos os mecanismos mais engenhosos para evitar que nos lembremos dessa condição. Fugimos da solidão tentando nos distrair com pessoas e experiências especiais, criamos expectativas e buscamos continuamente o novo, o inédito, na esperança de preenchermos aquilo que ainda não foi possível encontrar. Nossa cultura quer continuamente nos fazer pensar que precisamos a todo custo vencer nossa dor física e mental. Não apenas enterramos nossos mortos como se ainda estivessem vivos, mas também enterramos nossas dores como se elas não existissem de verdade.
Diante dessa realidade, a Páscoa de Jesus poderá nos dizer alguma coisa? Jesus, livre de si, e entregue sem reservas ao Pai, obediente ao plano de amor e Salvação do Pai, assume até o fim o destino do justo. Experimenta a força dilacerante da dor, da rejeição e do abandono. O homem das multidões e das massas agora está sozinho no Horto das Oliveiras. Sente profundamente a dor de sentir-se abandonado por todos, pelos seus e sofre a ponto de suar sangue (Lc 22, 44). Sente angústia, tristeza e medo. Quer uma presença amiga quando diz aos discípulos: “Ficai aqui e vigiai comigo” (Mt 26,38). Mas é abandonado, sozinho, diante do seu futuro. “Não fostes capaz de vigiar uma só hora comigo”(Mt 26,40). Surge a última tentação de fugir desta solidão esmagadora. “Abbá, Pai! Tudo te é possível, afasta de mim este cálice” (Mt 14,36). Mas, totalmente entregue ao amor, se agarra somente no Pai: “Não se faça, porém o que eu quero, e sim aquilo que tu queres”. A dor do abandono e da morte encontra seu colo confortante na confiança plena no Pai. A dor e a morte encontram seu sentido na glória da ressurreição.
A pergunta que nos faz relacionar as nossas solidões e dores com a Páscoa de Jesus é: sentiremos mais o conforto para as nossas solidões quando nos entregarmos mais plenamente ao amor, isto é, a fonte do amor, que nos acalenta com um abraço terno e seguro, próprio de um Deus apaixonado por nós?
Pe. Ezequiel Dal Pozzo
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