Uma das maiores fontes de angústia para o ser humano é não conseguir moldar a vida de acordo com seus desejos. Todos gostaríamos de ver materializados rapidamente os nossos anseios e, quando isto não acontece, sentimo-nos frustrados e, muitas vezes, cheios de raiva. Tão envolvidos ficamos neste processo, que se torna difícil perceber o quanto esta atitude rígida acaba bloqueando a possibilidade de que o novo, o inesperado e o surpreendente aconteçam. Visto que nossos desejos são, em sua maioria, determinados pelo ego e por emoções conflitantes, vê-los materializados não é, em absoluto, garantia de que nos farão felizes.
Ao contrário, ainda que a princípio possamos nos sentir assim, logo novas inquietações surgirão, para nos levar de volta ao mesmo estado de ansiedade e insatisfação.Por que, então, não buscar uma nova maneira de agir, fora deste padrão? Confiar que a vida nos trará o que for o melhor para nossa evolução é a maneira mais eficaz de aprendermos a relaxar e nos entregarmos sem reservas ao que acontece. É claro que isto exigirá de nós uma disposição permanente para encontrar respostas criativas a cada situação, fugindo dos padrões pré-estabelecidos. A insegurança, que esta nova atitude gerará a princípio, será substituída por uma nova sensação: o prazer de ser surpreendido pela existência.
Texto escrito por Elisabeth Cavalcante
Comentário
O ser humano é um ser de desejos e necessidades. Existe diferença entre essas duas realidades. Necessário é tudo aquilo que não pode faltar para que o ser humano tenha uma vida digna. O desejo vai além da necessidade. Ele é infinito, mas quer se expressar, materializar no finito. Nem tudo o que desejamos é necessário para a nossa vida, de tal forma, que o fato de não alcançar o objeto, a situação, o padrão desejado se torne impossibilidade de realização. Ainda, nem tudo o que desejamos é bom e verdadeiro, muito embora, compreendamos que seja. Muitos desejos são criados em nós por influências externas e alheias a nossa vontade, que entram em nós inconscientemente. As propagandas, por exemplo, criam em nós muitos desejos, que revestidos pela aparência do belo e bom, se tornam verdadeiras necessidades, de tal forma, que não conseguir o objeto desejado, para muitos, se torna sinônimo de angustia e não realização.
Purificar os nossos desejos no crivo da verdade e do bem pode ser um caminho para a satisfação e a realização. A serenidade diante de todas as propostas e produtos que se oferecem também deixa a existência mais leve e menos angustiada por não ter conseguido aquilo, que na verdade, nem é tão importante assim. Viver o prazer de ser surpreendido pela existência, como diz a autora, não deve significar o “deixa a vida me levar” da canção. A vida e as surpresas da vida exigem a nossa maturidade e o nosso continuo aperfeiçoamento no amor e na verdade. A vida não nos trará o melhor sem o nosso esforço e o nosso continuo discernimento entre o bem e o mal, o verdadeiro e o falso, o real e o ilusório. Estamos nós preocupados com essa necessidade continua de evolução para alcançarmos o nosso melhor e o expressarmos na vida?
Pe. Ezequiel Dal Pozzo